sábado, 5 de novembro de 2011

reminiscências,a fita da morte (pt1)

Fui tomado ontem a noite por um assombro enorme que contagiou a tudo em minha volta. Estava eu a selecionar umas velhas fitas de vídeos, e acabei encontrando mais material do que eu julgo ser possível assistir. Um jovem com um martelo esmaga a cabeça da namorada ciumenta. Adolescentes resignados em sua juventude plástica picando gatinhos. Um por do sol agressivo e o enviado das trevas a me perseguir.
Eram fitas velhas e desconexas, que eu julgava estarem totalmente mofadas ou destruídas pelo tempo, mas não. E ontem a noite eu tive o desprazer nostálgico de, mais uma vez, me deparar intensamente com o passado. Primeiro de tudo, não preciso nem mencionar o Anjo Negro. Aquele que desde o dia em que veio me visitar pela primeira vez, se instalou em minha alma, viveu a minha vida e morou na minha casa. Ele pode ser visto na maioria das filmagens. Discretamente, languidamente. Pelos cantos dos enquadramentos. Mas sempre lá. São muitas informações. A um vórtice no tempo e um buraco nas trevas. Eu fui tragado pelos dois.
Parei a fita. Desci as escadas e peguei uma garrafa de vinho. Vai ser necessário uma ou duas dessas para suportar essa estranha viagem ao passado. Essa insólita volta aquele período tão desagradável que é a adolescência. Insuportável pensar no que eu já fui um dia. Um adolescente sórdido com espinhas na cara, maneirismos estereotipados de fala, e uma máscara de insegurança estampada no rosto. Uma enorme máscara de carnaval com plumas de pavão escrito em neon azul; " Eu sou uma colcha de retalhos! Eu sou inseguro, sou volúvel como uma borboleta. Eu não sou nada, eu não sou ninguém". E logo na sequência tem uma imagem minha com quinze anos dizendo; " Enterrem meus órgãos no quintal". O que eu estava dizendo?
É estranho. Eu fui o último dos meus amigos a beijar, mas deveria, na verdade ter sido o último dos meus amigos a transar. Coisa que não aconteceu. E atribuo a e pular de fases, muitos dos meus infotunios e complexos na vida sexual. É estranho mergulhar no passado. Alguém tem uma ácido derretendo entre os dentes. Pequenos adolescentes com os olhos vidrados coversam frenéticamente enquanto fuma pilhas de maços de cigarros e as ovas dos peixes amassadas deixando os dedos amarelos e com um cheiro bolorento que vem da merda grudada no tênis. " Porra. eu pisei no coco do cachorro" diz alguém e os olhos vidrados da juventude transviada se voltam para a escuridão.
Nesse ponto novamente parei a fita. Um pouco nova demais aquela meninice toda com todas aquelas substâncias escorrendo pela superfície do rosto. Garotos de doze anos se bulinando e fumando maconha em um baile de fantasias improvisado na garagem. Um sapo, um aventureiro do bairro proibido, um vaqueiro e um Mc de funk. Totalmente transfigurados os rostos aparentam traços de metamorfose, insegurança, transubstanciação e homosexualidade. Mas como já diria Freud; " Todos os seres humanos até os doze anos de idade é potencialmente bissexual. Levando em conta que filmagem a molecada tinha exatamente doze anos, posso dizer que essa foi na trave. Cada moleque, um pendurado em cima do outro, bebendo, vomitando, dançando e insinuando coreografias que poderiam muito bem sugerir um ato sexual. ( para os especialistas). Mulheres? não havia nenhuma. Não. Elas eram boas de mais para a gente. Especialmente para mim. Porra. Entrar em contato com esse filme infernal, apalpei as mãos nas costas e senti a raiz das asas negras que fui forçado a arrancar na adolescência. Relembrei em 5.0 Hd o sofrimento que foi ter a minha juventude perdida, ver as portas do paraiso se fechando por causa das mulheres. Eu fui totalmente desprezado pelo sexo feminino em minha mocidade. O neon que eu carregava em minha aura avermelhada dizia em letras maiúsculas; " Ele nunca beijou na boca". De fato isso demorou para acontecer. E quando aconteceu, foi com uma mulher três vezes a minha idade e três vezes o meu peso. Que deus a tenha pois eu sei que ela morreu Sofreu um acidente. Houve muita baba e muitas mentiras nesse dia, pois eu disse que tinha uma namorada. Não sei por que menti. Talvez por que ela era muito feia e eu não queria repetir a experiência.
Ser adolescente foi terrível mesmo. Vejo moleques de quinze anos andando de bicicleta na rua, acompanhados de suas namoradas queimadas de sol e me pergunto se eu tivesse sido um deles, como seria minha vida hoje? No meu caso, não houve muita resistência. Desde cedo percebi que minha mocidade estava resignada ao desamparo e frustração. Não precisei ter um olho clínico para me olhando identificar que eu era um daqueles que possui a marca. A marca dos errantes. A marca lembrava uma cicatriz. E mesmo constantemente rejeitado pelas mulheres e posteriormente rejeitado pelos amigos eu ficava parado de frente para o espelho a contemplar minha marca de Caim. No meu íntimo eu sabia que aquilo tudo era apenas uma fase, e que em breve tudo iria mudar. Eu iria me tornar um homem. Um homem que possuia a marca no rosto. A marca que mais lembrava uma cicatriz, um corte.
O vídeo me fez lembrar de coisas que não aconteceram nunca, e eu fiz questão de esquecer tudo. A luz parece escura e a escuridão se fez tão clara. Parei de assistir a fita no momento em que começaram os caseiros filmes de terror. " A anatomia do terror". "A psicologia do medo". " O fracasso em tentar ser como os demais". Fui acometido por tantas que isso renderia até um outro post. Nesse momento, vou abrir outra garrafa de vinho, aquela que tem um capeta estampado no rótulo e continuar minha jornada lunar de encontro as trevas do passado.

9 comentários:

  1. Compreender que o presente será o futuro passado que atormenta, alivia a amargura por ainda ser mutável.
    Lembro que desde muito pequeno tenho esta visão do presente: 'Algo que vou me lembrar no futuro.' Contribuiu para desenvolver uma memória tenaz e por consequencia um espírito angustiado. rs Memorias... Acabo de lembrar de uma frase do Albert Schweitzer: 'A felicidade é nada mais que boa saúde e memória fraca.' Revirar memórias é uma roleta russa.

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  2. Concordo com você Riptor (Presente: algo que vou me lembrar no futuro).
    Nossa Erich, temos em comum no lance de não ter beijado ninguém aos quinze e o lance de pular as fases rs. Lembro que o lance do beijo era tão macabro que anos depois fiquei sabendo que até apostas rolaram pra saber quem seria o primeiro, isso porque eu era muito grossa, e o primeiro que tentava sempre apanhava. Malditos sentimentos que eu reprimia!!kkkk

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  3. Caralho, eu to muito chapado mas vou comentar.

    Caim matou abel e assim caim se tornou o homem com rosto cortado. é o cara que não tem vergonha do que fez. o que ele fez lá define o que ele é hoje, e assim eu penso que é a adolescência. o que você fez e sofreu lá, define o que você é hoje.


    "Sou o vingador, mato com amor!" Um dia eu vou ter muita raiva de quem me fez ficar assim e também vou agradecer.

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  4. Mas que comentário infeliz o meu! leio tudo isso e me lembro do cheiro de maconha de ontem a noite.

    e por um acaso eu entrei no blog e não fui eu que fiz o comentário acima, fui eu mas não fui eu. E se um dia eu me encontrar com esse outro eu? Erich, se você fosse encontrar com esse erich de 15 anos de idade, o que diria a ele?

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  5. Meu passado me dói, meu presente me dói e não acredito em futuro - comofas ?

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  6. depois de ler isso aqui, estive por horas pesquisando sobre auras. interessante é o fato de eu já ter ouvido que tenho uma aura cristal e que ela ebsorve um pouco de todas as outras e me faria sentir as coisas com toda essa empatia e deveras exageiro. até faz sentido. não fosse pelo fato de não encontrar uma 'aura cristal' em alguns lugares, eu até acreditaria totalmente. mas entao cheguei até a aura prateada. que é a mesma coisa que a cristal. percebo o problema com as denominações... engraçado esse problema, ele sempre me persegue mesmo que por coincidências. muito complicado quando as palavras fazem menos sentido do que o cheiro nauseabundo do qual me falou um outro dia.

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  7. eu tirava fotos. muitas fotos. ainda me considero na adolescencia com a cara de carência e rejeição misturadas a falta de auto confiança. mas já foi muito pior, percebo pelas recordações. hoje eu não curo ninguém pq nao sei como fazê-lo, ontem eu não curei ninguém pq não queria nem me importava. e amanhã?
    amanhã não haverá fotos, mas sim espelhos. assim espero..

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  8. vocês falaram isso de adolescente, e eu fiquei pensativo por alguns momentos, sobre o beijo, eu tenho exatos 15 anos, diferentes de muitos, eu dei o meu primeiro beijo na boca com 7 anos eu acho, mas me arrependo disso, mas pra frente ganhei outros, que também me arrependi, por mim, eu não teria beijado até hoje, pois eu me arrependo do que fui, e do que fiz.

    como dizia uma frase que eu fiz: "O ontem rasgará o verão, e quebrará o silêncio do arrependimento com memórias".

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