domingo, 13 de novembro de 2011

Kayne west; A maior farsa do show business

Na pior das hipóteses, não é possível confiar em uma só palavra que esse cara diz. Como isso foi acontecer? Ontem fui ao primeiro dia do SWU na cidade de Paulínia (Não sei exatamente por que eu fui nesse dia, provavelmente para prestigiar os meus amigos da Groove) e me deparei com o show desse cara, que segundo suas próprias palavras, se considera uma figura bíblica, possívelmente também uma figura pagã, um Semi Deus. De fato, seus crimes contra os direitos autorais de outros artistas póstumos e seus delírios megalomaníacos fazem desse homem de 34 anos se comportar como um sátiro.
O dia começou estranho. Muito estranho. Caminhando pelas ruas de São Paulo, topei com uma sujeito discreto, óculos escuros e chapéu coco que por muito pouco não esbarrou no meu ombro. Era o Ringo Star. Legal, pensei, acabo de cruzar um homem que seguindo por esse mundo sem raízes dividiu longas horas de sua vida com John Lenon. Eu, um cara errante, cheio de energia acumulada que poderia muito bem estar bêbado a essa hora do dia, tropeçar em cima dele e ter todos os meus dentes esparramados no chão pela frota de seguranças que escoltavam o Beatle menos reconhecido.
A noite, já no festival, outra baterista importante em linha cruzada com a minha vida, o do System of a down. Esse, eu tive a oportunidade de comprimenta-lo, mas... como as pessoas importantes não querem saber de mim, ele nada fez além de falar um bando de piadinhas sem graça e ficar babando sobre os peitos da minha namorada. Esses caras são de outra raça. Steve Jobses, Ringo Stares, John Lenons, Kayne Westes, bateristas do SOAD. Mas se por outro lado, eu me der o luxo de pensar e refletir que esse cara também deve ter um nome, e eu apenas sei que ele toca bateria ... Isso torna justa a situação.
Após uma longa batalha contra antigos espíritos do mal e amuletos vodus consegui chegar a tenda aonde me foi possível entrar em contato com a quinta essência da arte que é a música do Kayne.
Algo confirmou que meus instintos estavam certos quando, toda vez que eu ouvia esse cara cantando com aquele autotune infernal, eu pensava em merda. Dessa forma, lá fui eu, rumo a um horizonte desconhecido assistir a apresentação, para, ao menos, ter uma opinião precisa quando for dizer algo sobre Kayne West, um homem de 34 anos, que segundo suas próprias palavrasdespreparadas afirma que, se a bíblia tivesse sido escrita hoje, seu nome certamente seria mencionado nela.
O cenário do palco é o seguinte; Uma imagem em estilo clássico com diversas figuras angelicais e mitológicas todas embrenhadas como que para saudar o homem ali se apresenta e fica duas horas cantando sobre os nomes que ele dá para suas armas, os apelidos que ele dá para suas namoradas, o flerte com a menina na festa de ontem a noite em Los Angeles, os carros que tem e que pretende comprar e roupas da Nike que brilham no escuro. Tudo tem a ver com a o fundo de palco barroco. Eu disse cantar? Não sei por que tive a impressão que quando eram utilizados aqueles efeitos de voz tratava-se de um playback. Antes dele aparecer no palco, um coro ensurdecedor de anjos seguidos por um som de órgão sintetizado no volume máximo, sugeriam o renascimento do Nosso Senhor. Algo épico. Para aquelas almas que acreditam nesse homem, o Sublime.
Ali, no meio daquela gente, entre Bibis e Betos Lees, me sentia uma ovelha negra. As roupas do pública brilhavam. As minhas e as da minha trupe eram todas escuras. " Não vai demorar muito para que percebam isso e matem um de nós" eu disse para o Magrão. Então o Kayne West seguiu cantando coisas que eu não conseguia identificar e como a cerveja estava muito agradável, e liberada, fui ficando mais animado e otimista. Então uma pausa dramática e a apresentação volta com nada mais nada menos que a música do Queen. O dj executa "we will rock you"' em tempo integral enquanto o ídolo fica parado de frente para a multidão com algo de arrogante no rosto captando as vibrações. O público? O público naturalmente que foi ao delírio. Você está no meio de 60.000 pessoas e toca aquela batida do Queen com a voz angelical do velho Fred cantando a todo o vapor, quem não vai entrar em transe? Quem não vai gostar? Quero dizer, ou esse Kayne West é jovem inteligente ou um farsante veterano, pois "What da Fuck" tem a música dele em comum com a do Fred Mercury? Para começar que esse cara deve ser homofóbico, como a maioria dos rapers americanos são. O povo fica louco. E não adianta dizer que é o mal dos trópicos. Não. O povo fica louco pelo mundo afora com essa incoerência.
Pra fechar com chave de ouro perto do final, outra pausa dramática e... o Dj ataca com "Chariot of Fire" sabe aquela música que se tornou um símbolo de esperança e equidade para as pessoas portadoras de necessídades especiais. Uma música composta por Vangelis, um sujeito pioneiro no new wave e na música experimental entre os anos 70/80. Será que o cidadão Kayne realmente gosta desse experimentalismo quase erudito do Vangelis? Talvez ele esteja mais interessado em ser visto pelos olhos do mundo como uma semiótica do sentimentalismo e de esperança, mal que, segundo os gregos permaneceu aprisionado na caixa de Pandora. Para melhorar, rolou um balé enquanto tocava a música e ele ficava olhando para as dançarinas com um misto de ignorância e confiança no rosto. Dentro de meu sarcasmo, e de minha cerveja, fiquei imaginando um balé de cadeirantes todos rodopiando e derrapando em meio ao Jesus Cristo negro que no final estendem juntos suas mãos para o céu, e milagre, os cadeirantes se levantam, chutam suas cadeiras velhas e começam a dançar Break em torno do Messias da música pop.
Na moral, esse cara é a maior farsa que eu já tive a oportunidade de assistir no Show Business. E quem acredita nele, porra, francamente... Nota do show 1.5

Show - 0.0
repertório - 0.5
Comportamento (0 meu) 8.0
Cerveja - 10

sábado, 5 de novembro de 2011

reminiscências,a fita da morte (pt1)

Fui tomado ontem a noite por um assombro enorme que contagiou a tudo em minha volta. Estava eu a selecionar umas velhas fitas de vídeos, e acabei encontrando mais material do que eu julgo ser possível assistir. Um jovem com um martelo esmaga a cabeça da namorada ciumenta. Adolescentes resignados em sua juventude plástica picando gatinhos. Um por do sol agressivo e o enviado das trevas a me perseguir.
Eram fitas velhas e desconexas, que eu julgava estarem totalmente mofadas ou destruídas pelo tempo, mas não. E ontem a noite eu tive o desprazer nostálgico de, mais uma vez, me deparar intensamente com o passado. Primeiro de tudo, não preciso nem mencionar o Anjo Negro. Aquele que desde o dia em que veio me visitar pela primeira vez, se instalou em minha alma, viveu a minha vida e morou na minha casa. Ele pode ser visto na maioria das filmagens. Discretamente, languidamente. Pelos cantos dos enquadramentos. Mas sempre lá. São muitas informações. A um vórtice no tempo e um buraco nas trevas. Eu fui tragado pelos dois.
Parei a fita. Desci as escadas e peguei uma garrafa de vinho. Vai ser necessário uma ou duas dessas para suportar essa estranha viagem ao passado. Essa insólita volta aquele período tão desagradável que é a adolescência. Insuportável pensar no que eu já fui um dia. Um adolescente sórdido com espinhas na cara, maneirismos estereotipados de fala, e uma máscara de insegurança estampada no rosto. Uma enorme máscara de carnaval com plumas de pavão escrito em neon azul; " Eu sou uma colcha de retalhos! Eu sou inseguro, sou volúvel como uma borboleta. Eu não sou nada, eu não sou ninguém". E logo na sequência tem uma imagem minha com quinze anos dizendo; " Enterrem meus órgãos no quintal". O que eu estava dizendo?
É estranho. Eu fui o último dos meus amigos a beijar, mas deveria, na verdade ter sido o último dos meus amigos a transar. Coisa que não aconteceu. E atribuo a e pular de fases, muitos dos meus infotunios e complexos na vida sexual. É estranho mergulhar no passado. Alguém tem uma ácido derretendo entre os dentes. Pequenos adolescentes com os olhos vidrados coversam frenéticamente enquanto fuma pilhas de maços de cigarros e as ovas dos peixes amassadas deixando os dedos amarelos e com um cheiro bolorento que vem da merda grudada no tênis. " Porra. eu pisei no coco do cachorro" diz alguém e os olhos vidrados da juventude transviada se voltam para a escuridão.
Nesse ponto novamente parei a fita. Um pouco nova demais aquela meninice toda com todas aquelas substâncias escorrendo pela superfície do rosto. Garotos de doze anos se bulinando e fumando maconha em um baile de fantasias improvisado na garagem. Um sapo, um aventureiro do bairro proibido, um vaqueiro e um Mc de funk. Totalmente transfigurados os rostos aparentam traços de metamorfose, insegurança, transubstanciação e homosexualidade. Mas como já diria Freud; " Todos os seres humanos até os doze anos de idade é potencialmente bissexual. Levando em conta que filmagem a molecada tinha exatamente doze anos, posso dizer que essa foi na trave. Cada moleque, um pendurado em cima do outro, bebendo, vomitando, dançando e insinuando coreografias que poderiam muito bem sugerir um ato sexual. ( para os especialistas). Mulheres? não havia nenhuma. Não. Elas eram boas de mais para a gente. Especialmente para mim. Porra. Entrar em contato com esse filme infernal, apalpei as mãos nas costas e senti a raiz das asas negras que fui forçado a arrancar na adolescência. Relembrei em 5.0 Hd o sofrimento que foi ter a minha juventude perdida, ver as portas do paraiso se fechando por causa das mulheres. Eu fui totalmente desprezado pelo sexo feminino em minha mocidade. O neon que eu carregava em minha aura avermelhada dizia em letras maiúsculas; " Ele nunca beijou na boca". De fato isso demorou para acontecer. E quando aconteceu, foi com uma mulher três vezes a minha idade e três vezes o meu peso. Que deus a tenha pois eu sei que ela morreu Sofreu um acidente. Houve muita baba e muitas mentiras nesse dia, pois eu disse que tinha uma namorada. Não sei por que menti. Talvez por que ela era muito feia e eu não queria repetir a experiência.
Ser adolescente foi terrível mesmo. Vejo moleques de quinze anos andando de bicicleta na rua, acompanhados de suas namoradas queimadas de sol e me pergunto se eu tivesse sido um deles, como seria minha vida hoje? No meu caso, não houve muita resistência. Desde cedo percebi que minha mocidade estava resignada ao desamparo e frustração. Não precisei ter um olho clínico para me olhando identificar que eu era um daqueles que possui a marca. A marca dos errantes. A marca lembrava uma cicatriz. E mesmo constantemente rejeitado pelas mulheres e posteriormente rejeitado pelos amigos eu ficava parado de frente para o espelho a contemplar minha marca de Caim. No meu íntimo eu sabia que aquilo tudo era apenas uma fase, e que em breve tudo iria mudar. Eu iria me tornar um homem. Um homem que possuia a marca no rosto. A marca que mais lembrava uma cicatriz, um corte.
O vídeo me fez lembrar de coisas que não aconteceram nunca, e eu fiz questão de esquecer tudo. A luz parece escura e a escuridão se fez tão clara. Parei de assistir a fita no momento em que começaram os caseiros filmes de terror. " A anatomia do terror". "A psicologia do medo". " O fracasso em tentar ser como os demais". Fui acometido por tantas que isso renderia até um outro post. Nesse momento, vou abrir outra garrafa de vinho, aquela que tem um capeta estampado no rótulo e continuar minha jornada lunar de encontro as trevas do passado.